“Está muito Gelado!” Gritou Marizete Hoher, 49 anos, ao descer de um barco debaixo de uma chuvarada para tentar salvar alguns móveis que estavam prestes a sair boiando rio a fora devido à enchente do Rio Vacacaí, em Santa Maria.
Com a água pelos joelhos, ela nadou pela frente da casa, onde antes passava uma estrada. A constatação de que já era tarde para salvar a geladeira, que havia ficado funcionando quando ela saiu correndo de casa para tentar se salvar. Era uma cena triste de se ver.
Como Marizete, outras 87 famílias que moram no Passo do Verde, distrito de Santa Maria, perderam quase tudo o que tinham. Ao todo, mais de 400 casas – a maior parte delas de veraneio – foram alagadas pela enchente.
Para chegar a locais onde antes era comum encontrar famílias tomando mate no fim de tarde, como a Sociedade Amigos do Balneário Passo do Verde, agora é preciso usar um barco. A maioria dos botes que há no local é dos próprios moradores que, solidários, passam o dia todo levando pessoas para lá e para cá para que elas possam ver de perto como ficou sua propriedade e se há algo que podem fazer para melhorar a situação.
Assim que a notícia de que as casas do Passo do Verde estavam alagadas, vieram as primeiras críticas à população ribeirinha já que boa parte das casas foram construídas muito perto do rio.
– Todos aqui sabemos que pode haver enchente, mas nos últimos 20 anos, o rio não tinha subido tanto – diz o presidente da associação de moradores, Sérgio Dornelles.
Além de defenderem seu patrimônio, muitas famílias também têm voltado para casa em busca de animais de estimação. O taxista Claudio Brum, 50 anos, já guarda cinco cachorros em um de seus barcos.
– Pelo menos aqui eu tenho certeza que eles estão protegidos – afirma Brum.
Questionado sobre o que iria fazer para ajudar as famílias, o coordenador da Defesa Civil de Santa Maria Cladimir Nascimento disse que iria interditar as moradias, já que alguns moradores estavam insistindo em não sair das casas e estavam abrigados no segundo andar das moradias, com medo de que quando o rio baixar as residências sejam invadidas por outras pessoas.
Para o trânsito, a enchente também trouxe problemas graves. A ponte sobre o Rio Vacacaí, que corta a BR-392, que liga Santa Maria a São Sepé chegou a sofrer uma ameaça de interdição. Em 2002, a mesma ponte chegou a ser implodida porque apresentava riscos. Agora, quando o rio baixar, ela terá de passar por nova avaliação para que haja garantia de que não foi comprometida.
A Defesa Civil não chegou a iniciar nenhuma campanha para os desabrigados. O órgão acredita que não é hora para isso e que, primeiro, é preciso dar jeito de retirar quem ainda está nas habitações. Porém, também não foi providenciado nenhum local para levar as famílias que precisarem de abrigo, tampouco está sendo feito trabalho de prevenção ou diagnóstico da leptospirose.
– É preciso dar um passo de cada vez – afirma Nascimento.
Neste final de semana, depois de muitos dias fez sol forte na cidade. A expectativa é que o Rio – que já baixou alguns metros em São Gabriel, cidade por onde passa antes de chegar a Santa Maria – volte ao normal ainda esta semana. Se isso acontecer, os moradores garantem que não vão pensar duas vezes, desta vez em meio ao barro e não à água do Vacacaí, para começar a reconstrução de suas casas.
Se você não conhece Santa Maria, observe na imagem do Google Earth onde fica o Passo do Verde e as áreas atingidas (clique sobre a imagem para vê-la em tamanho ampliado):
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