domingo, 15 de novembro de 2009

Mudanças a 2.0

Lembro que na faculdade – nem faz tanto tempo assim que saí dela – nos debruçávamos sobre manuais para tentar desvendar o novo idioma que surgia: a linguagem HTML. Para elaborar um site era preciso saber, por exemplo, que #0000ff é a cor azul pura. Eram horas até produzir uma única página. Usar algumas das ferramentas da Web não era coisa para todos.



Na época em que produzir um site já era coisa muito complicada, interagir com ele parecia impossível. A maioria das pessoas ficava limitada à Internet como uma imensa biblioteca virtual. Exemplo disso é que, em 1994, havia cerca de 10 mil páginas na Web, mas todas com conteúdo unidirecional de grandes portais como Aol, Yahoo e Uol, na qual podia ser encontrada muita informação, mas nenhuma oportunidade de participação dos usuários.

Vivíamos o surgimento da Web 1.0 sem jamais imaginar a riqueza de recursos que estariam ao nosso dispor pouco tempo depois, com o surgimento da Web 2.0, a segunda geração de transformações. Hoje, para montar um blog como este que você está lendo, os sites de hospedagem já oferecem modelos prontos. Basta alguns cliques para personalizar o modelo e qualquer um pode jogar na Web conteúdo sobre o que for de sua vontade. Resumidamente: foi-se o tempo em que interagir via Web era apenas mandar um e-mail e torcer para que ele fosse respondido.

A vida na Web 2.0 é aquela em que qualquer um pode postar vídeos (YouTube), fotos (Flickr), áudios (podcasts), textos (blogs), e disponibilizá-los para quem tiver interesse em assistir, ou melhor, interagir com esse material. Como define Tim O’Reilly, um dos inventores da expressão “web 2.0”, ela se tranforma na “sabedoria das multidões”. Ainda que muitos questionem o conteúdo dos blogs, dos sites, dos comentários deixados nas páginas dos jornais, e demais informações geradas na Internet, ela vira um trabalho coletivo.

Para o jornalista, surge uma tarefa muito difícil. Se antes a sua interatividade com o leitor era, muitas vezes, apenas responder e-mails, hoje não é raro acompanhar blogs para ficar informado sobre cidades da região de atuação do veículo em que trabalha, vasculhar dados do Orkut ou Twitter, e ser informado por agregadores de conteúdo sobre as principais atualizações em informações de se interesse. Ora, inverte-se a lógica da notícia, porque quem antes era leitor agora é também um produtor de conteúdo. Distinguir quais desses conteúdos têm valor de notícia e o que não passa de inutilidade é uma das tarefas mais difíceis da Web 2.0.

Além disso, os próprios jornais acabam sendo alvo de uma mudança. Agora, os leitores têm o poder de atribuir notas, comentários e até mesmo de enviar material – como fotografias – que passarão a fazer parte do seu conteúdo. Se essa é uma verdade na impressa online, acaba se tornando uma exigência da impressa, pois, para se manter vivo, o jornal em papel também não pôde mais manter suas características originais e precisou criar suas próprias ferramentas de interação.

Para entender o significado dessa mudança, basta atentarmos para o fato de que o que mede, na Web 2.0, a popularidade de um site é a interação com os internautas. Exemplo disso é o Orkut, uma das mais populares redes de relacionamento no Brasil. Desde que respeite algumas normas, como não disseminar a pedofilia e o nazismo, o usuário pode colocar fotos, seus vídeos favoritos, participar de comunidades e até bisbilhotar o que seus amigos andam fazendo.

Para as empresas, a mudança da Web 1.0 para a 2.0 também trouxe mudanças. Hoje uma pessoa pode não só comprar pela Internet, mas também criar uma lista de preferências para quem quiser presenteá-la e comentar sobre produtos que adquiriu, atribuindo valor a eles, seja esse julgamento bom ou ruim para quem está vendendo o artigo. Ao mesmo tempo em que as empresas conseguiram se espalhar mais rapidamente pelas cidades, sem ter de alugar salas comerciais ou gastar com telefone e fax, tiveram de se acostumar com um público que pode pesquisar para encontrar os preços e as oportunidades que mais lhe interessam sem gastar as solas dos sapatos, apenas com poucos cliques.
O mais interessante da Web 2.0 é que, por mais que estejamos aqui gastando milhares de caracteres para explicar tamanha tecnologia, a grande maioria das pessoas que vive conectada sequer reflete sobre a sua existência. Como descreve Gilberto Gil na música “Pela Internet”, o público da Web 2.0 “segue a vazante da infomaré” e está mesmo é interessado em entrar na rede para criar homepages, promover debates e encontrar os serviços que mais podem facilitar a sua vida. Se não encontrarem isso num local, migram para outro sem pensar duas vezes.

Alunos de uma escola do Pará receberam uma taref do professor no clima de Web 2.0: interpretar com lápis de cor a música Pela Internet. Vale  a pena conferir o resultado:


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